segunda-feira, 11 de maio de 2015

Resenha #2: Ratos

Ratos
Autor: Gordon Reece
Editora: Intríseca
Número de páginas: 238
Lido em: Fevereiro de 2015


                                                                
                    Avaliação: 
      4 SUBMERSOS (ÓTIMO)
Sinopse: Shelley e a mãe foram maltratadas a vida inteira. Elas têm consciência disso, mas não sabem reagir — são como ratos, estão sempre entocadas e coagidas. Shelley, vítima de um longo período de bullying que culminou em um violento atentado, não frequenta a escola. Esteve perto da morte, e as cicatrizes em seu rosto a lembram disso. Ainda se refazendo do ataque e se recuperando do humilhante divórcio dos pais, ela e a mãe vivem refugiadas em um chalé afastado da cidade. Confiantes de que o pesadelo acabou elas enfim se sentem confortáveis, entre livros, instrumentos musicais e canecas de chocolate quente junto à lareira. Mas, na noite em que Shelley completa dezesseis anos, um estranho invade a tranquilidade das duas e um sentimento é despertado na menina. Os acontecimentos que se seguem instauram o caos em tudo o que pensam e sentem em relação a elas mesmas e ao mundo que sempre as castigou. Até mesmo os ratos têm um limite.       

       Ratos, obra do britânico Gordon Reece, é um thriller psicológico narrado por uma garota que, junto com sua mãe, passou por poucas e boas na vida. As duas se autodefinem como “ratos”. Estão sempre se escondendo, se submetendo a tudo e a todos, e nunca se impõem. Um livro pra quem tem estômago forte e é interessado em suspenses, mistérios... e sangue.
       O livro começa com Shelley, de 15 anos, relatando que ela e a mãe, Elizabeth, estão à procura de um novo lar. Ao decorrer das páginas iniciais, a menina nos faz compreender fatos conturbados de sua vida, que impulsionaram essa vontade de mudança. Seu pai as abandonou, trocando- as por uma amante. Sendo um rato, Elizabeth conformou-se com o divórcio sem pestanejar, e sua vida nunca mais fora a mesma. A mulher tinha deixado sua maravilhosa carreira de advogada para cumprir a vontade do ex-marido, que dizia que ela precisava cuidar da casa e seu salário era suficiente. Após o divórcio, teve de voltar a trabalhar. Porém, em uma firma pequena e com condições miseráveis, tendo de aceitar as ordens e cantadas de um patrão grosseiro.
       Shelley sofrera bullying de quem antes eram suas amigas, as “garotas envolvidas”: Teresa Watson, Emma Townley e Jane Ireson.  Ela vai nos detalhando o que aconteceu para que aquela amizade fosse 
transformada em ódio.


Eram minhas melhores amigas desde que fomos colocadas na mesma turma, aos nove anos. Brincávamos juntas em todos os intervalos (de pular corda, de bambolê, de amarelinha, de mamãe posso ir) e nos sentávamos sempre juntas no refeitório da escola, para comer nossos almoços empacotados. Frequentemente nos visitávamos nos finais de semana e durante as longas férias escolares. Éramos inseparáveis, como uma patotinha, um clube. E até inventamos um nome – as JETS -, um acrônimo com nossas iniciais.   
       O bullying ocorrido não é como o que estamos acostumados a ver. É pesado, cultivando na personagem até um desejo de suicídio. Além dos clássicos xingamentos, das humilhações, um episódio terrível acontecera. As garotas, cansadas da mesmice, resolveram evoluir a perseguição para algo mais sério. Uma palavra define bem: FOGO. Um dos momentos mais perturbadores em sua vida escolar, criando marcas físico-mentais e psicológicas, difíceis de serem apagadas. Traumatizada, ela deixa a escola e passa a morar com a mãe em um lugar afastado do perigo. 
       O Chalé Madressilva é afastado da cidade e escondido pelo mato. Um lugar perfeito para um rato. Livros, música, tranquilidade. Mãe e filha crêem que suas vidas estão para mudar, o que é bem verdade. Quanto a se livrarem do perigo... ledo engano.
       Está tudo bem para elas. Sem perseguição. Sem escola. Aulas particulares. Pela lógica, nada de ruim poderia acontecer, levando em conta o que já passaram. Porém, na noite de aniversário de 16 anos de Shelley, um homem portando uma faca invade o seu lar, fazendo-as de refém. Bela forma de comemorar...


A mais de um metro de distância eu sentia o cheiro de álcool, que o cercava como uma névoa invisível. Estava claramente bêbado, mas parecia existir algo mais. Ele mal se equilibrava; seu rosto pálido e pouco saudável estava repleto de gotas de suor. O assaltante se empenhava em permanecer acordado enquanto suas pálpebras se fechavam, piscando agitadamente diante do esforço que fazia para despertar. Seus olhos se reviraram, como se ele fosse desmaiar a qualquer momento, mas ele subitamente recobrou os sentidos, ergueu os ombros em um movimento brusco e olhou ao redor como se tentasse lembrar-se de onde estava.
       Amarradas em cadeiras, o que o destino reservaria para elas? O que estava pra acontecer? Enquanto o bandido passeava pela casa em busca de objetos preciosos, um sentimento nada típico de um rato desperta em Shelley e em sua mãe. Que sentimento é esse? Lendo “Ratos”, você entenderá.
       Submerso, eu não posso falar mais nada se não estarei dando spoilers, e você vai acabar me matando. Ou pior, deixando de seguir o blog. O que posso dizer é que a partir desse momento a vida das personagens não é mais a mesma. Ao longo das páginas, acompanhamos a sua mudança brusca de personalidade. Gordon Reece, com sua mente brilhante, desenrola uma trama única e sanguinolenta, com um toque de humor negro.
E a edição? A capa é simplesmente perfeita, belo trabalho da Intrínseca. Pelas imagens a seguir você verá que o buraco dos ratos realmente é um buraco no livro. Diagramação ótima, folhas amareladas, e não me recordo de ter encontrado erros de digitação ou gramaticais.
      
       Finalizo essa resenha ressaltando o que mais me cativou na obra: a forma como o autor vai tecendo a evolução das personagens, uma vez que há poucas na trama, e como ele nos envolve em seus temores e atos, que por vezes discordamos. Terminamos a leitura conhecendo uma nova definição para a palavra “rato”, e entendendo que por muitas vezes nos comportamos como um, omitindo nossas opiniões e nos submetendo aos desejos alheios. O que está esperando? Garanta já o seu exemplar, e prepare seu coração para o livro Ratos, de Gordon Reece.

Quando um gato entra na toca dos ratos, ele não vai embora deixando-os ilesos. Eu sabia como aquela história iria terminar. Ele mataria nós duas.
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5 comentários:

  1. Gostei muito da sua resenha, e já me conquistou para ler este livro, pois envolve suspense e mistério.
    Beijos!

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  2. Mais uma excelente resenha Davi, mas pode ir parando por aí!!

    Não posso continuar descobrindo livros maravilhosos assim, se não você vai me deixar só com água na boca e eu não vou poder adquirí-los kkk.

    Adoro a maneira que se dedicas as resenhas, assim como adoro o layout do blog e como as citações ficam destacadas!

    Ps: aprendi com várias mordidas que ratos uma hora ou outra reagem e reagem com força! Acho que será assim com o livro também hehe.

    Beijos

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  3. Esse livro parece bem melhor do que eu imaginei. Já ouvisse falar do livro Caixa de Pássaros, do Josh Malerman? Ele lida com suspense e o lado psicológico como esse Ratos. Também não li o livro do Josh, mas me pareceu interessante. Acho que tu vai gostar de Caixa de Pássaros.

    Autor de A Página Certa
    www.laplacecavalcanti.com

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  4. O Matheus que administra o blog comigo tamb~em á resenhou esse livro, foi um dos primeiros que tiverem resenha no blog. Eu perdi de compra-lo quando estava barato, mas ainda pretendo lê-lo.
    http://coisasdeumleitor.blogspot.com.br/2014/12/1-resenha-ratos-gordon-reece.html

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  5. Uou. Já ouvi falar desse livro, mas nem liguei. Agora, graças à sua resenha, tá na minha lista!

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